Uma visão atual sobre o tratamento de efluentes líquidos industriais certamente deve passar por um trabalho detalhado de redução de vazão em todas as partes do processo industrial em que isto for possível e, dependendo das características da indústria, uma setorização dos efluentes visando não misturar os efluentes mais simples de serem tratados, daqueles mais complicados ou até perigosos. Em muitos casos a mistura de todos eles (end of pipe) pode dificultar muito o processo de tratamento.
Em geral as indústrias têm um ritmo de produção de efluentes líquidos variável ao longo do dia, por este motivo, geralmente é necessário um tanque de equalização para, além de equalizar a qualidade do efluente, permitir a regularização das vazões.
Caso o efluente contenha alto teor de sólidos, é interessante um tratamento preliminar, fase na qual os materiais sólidos podem ser removidos, diminuindo a carga a ser tratada e melhorando o funcionamento dos sistemas de bombeamento.
Só então tem início o processo de tratamento propriamente dito, que no caso de um efluente com carga orgânica, geralmente será um tratamento biológico.
Os tratamentos biológicos se baseiam no potencial de transformação do metabolismo microbiano, seja ele aeróbio ou anaeróbio, reproduzindo assim os processos que já acontecem na natureza, porém em escala mais otimizada, lembrando que na natureza, sempre quando há oxigênio disponível, o processo de biodegradação ocorre de forma aeróbia, os processos anaeróbios só ocorrem quando o meio líquido não dispõe de oxigênio.
“Na verdade, a primeira coisa a ser feita ao se projetar um sistema de tratamento de efluentes industriais é a caracterização do efluente e suas vazões.”
Por ser um processo natural, os tratamentos biológicos geralmente apresentam o menor custo, desde que o efluente em questão se preste a tal tratamento. Na verdade, a primeira coisa a ser feita ao se projetar um sistema de tratamento de efluentes industriais é a caracterização do efluente e suas vazões. Esta fase já mostra as aptidões do efluente aos vários tipos de tratamento. Em seguida, pode ser realizado um teste de tratabilidade, pois muitas vezes os efluentes contém outros componentes secundários que limitam um tipo ou outro de tratamento.
Nos tratamentos biológicos aeróbios, em geral é necessário o fornecimento de oxigênio à massa líquida, o que implica no uso de aeradores e dispositivos similares e em custos de equipamentos e energia elétrica.
Já os processos anaeróbios dispensam estes equipamentos, tendo menor custo. Por outro lado, os processos aeróbios são mais eficientes que os anaeróbios e podem ser combinados, resultando em sistemas de tratamento anaeróbios seguido por sistemas aeróbios.
Os sistemas anaeróbios geralmente são do tipo de fluxo ascendente, o que mantem a biota em suspensão, o que aumenta a eficiência do tratamento. Já os sistemas aeróbios têm as mais diversas configurações, sendo uma das mais comuns o lodo ativado, composto por um tanque de aeração seguido por um decantador secundário, no qual parte da biomassa decantada retorna ao tanque de aeração para aumentar a eficiência do processo.
Além dos processos biológicos, indicados para o tratamento de efluentes com carga orgânica, há os tratamentos físico-químicos, que empregam produtos químicos para agregar a matéria particulada em suspensão. Estes processos podem ser usados antes (pré-tratamento) ou depois (pós-tratamento) dos processos biológicos.
Nos dois tipos de processos há formação do lodo, um material de composição variável, que durante do processo de tratamento é separado da fase líquida e que precisa ser desaguado e corretamente disposto, sendo esta operação uma fase importante do processo de tratamento.
Os processos citados acima são os mais comuns, porém existem efluentes industriais que não contêm matéria orgânica, mas sim componentes metálicos, ou materiais orgânicos tóxicos, neste caso são necessários processos específicos de troca catiônica, processos físico-químicos ou tratamento com sistemas de membranas.
Conforme foi mostrado neste texto, a variabilidade dos tipos de efluentes industriais é muito grande e consequentemente o tipo ideal de tratamento também é grande. Conhecer da melhor forma possível as vazões e as características do efluentes é o primeiro passo para o um bom projeto de sistema de tratamento. Se for possível fazer um teste de tratabilidade, seu resultado pode auxiliar muito na definição do projeto. E nunca se esquecer de definir um sistema de desaguamento e destino final do lodo que será inevitavelmente gerado.
Comments